sábado, 17 de setembro de 2011

faixa a faixa - 03 - Outras cores

Pablito Morales é na verdade Paulo de Moraes (Oliveira). O apelido quem deu foi Wimer Bottura Jr., o compositor de Todo o teu itinerário. Wimer criou esse apelido porque, segundo ele, o Paulo sempre "abolerava" os sambas quando estavam compondo juntos. O apelido ficou.

Pablito é uma figura. Uma pessoa engraçada, animada, muito querida por nossa turma. É um compositor de características bem definidas. Temas curtos, geralmente com uma primeira parte e uma segunda, raramente uma terceira. Compõe compulsivamente, mas só música, a letra fica por conta de seu parceiro mais constante, Delmo Biuford, poeta, letrista e compositor.

Pablito no tamborim, mas o seu instrumento é mesmo o violão e a guitarra

A melodia de Outras cores (que ainda não tinha esse título) caiu nas minhas mãos e é um dos grandes presentes que eu recebi pra esse repertório. Que bela melodia!

Ao ouví-la a primeira vez, cantarolada por Pablito em uma fita k7, eu já sabia que ela entraria no cd, assim que eu fizesse a letra. Nessa primeira audição eu também já imaginei o arranjo lembrando Futuros Amantes do Chico, uma marcha-bossa elegante. A harmonia, inclusive, é bem parecida. A terceira parte, instrumental, não existia e eu criei pensando também no arranjo de Futuros Amantes.

Ficou bonito.

Obrigado, Pablito!

Gabriel Medeiros
setembro/2011


sábado, 20 de agosto de 2011

faixa a faixa - 02 - Sonho do som

Sonho do som talvez seja a canção-síntese de De noite o sol ilumina. Ela toca de alguma forma nos diferentes assuntos apresentados no cd. Toca no próprio pensar a canção, que depois é retomado em O fim da canção. Toca na questão do desejo, que está também em Outras cores, em Talvez, em Sortilégio, em Todo o teu itinerário, em Deuses e deusas. Toca nas reflexões, críticas de Descobrimento do Brasil, de O fim da canção.

A dualidade desse desejo, essa "luz" que pode guiar e cegar, é a mesma do sol que pode iluminar de noite (Solar), ou do samba que pode ser alegria e melancolia (Bêbado de samba).

Sonho do som tem a palavra "sol", que aparece em várias letras e ilumina poeticamente o cd inteiro.

Sonho do som tem o verso "A voz violão João".


João Gilberto, esse artista luminoso e perene.

Não exagero se digo que considero João não só um artista, mas um ser ímpar na história do homem na Terra.

Certa vez tive um estalo ouvindo João. Entendi como se canta, como se deve emitir uma nota através da voz. Isso me formou, é a minha referência.

Fiz um cd de canções, gosto de canções , e Sonho do som diz: "faz um bem o som que tem o sonho de ser canção".

Acho bonito que os sons tenham sonhos. Porque um som pode ser muitas coisas, um som pode ser um barulho, um som pode ser música. Um som pode ser canção, pode se encontrar com as palavras, com a poesia, pode ser cantado.

Existe uma música de Gilberto Gil, feita em parceria com Bené Fonteles, que se chama O som da pessoa, onde a letra, de Gil, diz o seguinte:

"Qualquer pessoa
soa
toda pessoa
boa
soa
bem"

A reflexão a partir desses versos, acredito, me levaram aos versos de Sonho do som:

"Um som que faz bem
Um som que tem um dom
Faz um bem o som
Que tem o sonho de ser canção"

E acho que toda canção tem mesmo é o sonho de ser cantada por João.

Gabriel Medeiros
agosto/2011



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

faixa a faixa - 01 - Libra


Eu queria entrar em estúdio já com o repertório definido e, inclusive, já com a ordem das faixas estabelecida. Um dos impasses que eu tive foi justamente escolher a faixa que abriria o cd. Pensava que deveria ser uma composição minha, mas, ou eu não tinha uma canção adequada para ser a primeira, ou eu até tinha uma, mas que era importante para a dinâmica em outro momento do cd. Tudo bem, eu pensei, vou compor uma canção especialmente para a abrir o repertório. A canção não veio. Duas ou três tentativas diferentes e nada. A essa altura já considerava abrir o cd com uma composição de outro autor, mas, se fosse esse o caso, deveria ser de um compositor com o qual eu me identificasse produndamente.

A busca começou e em determinado momento eu encontrei (reencontrei) "Libra". Eu amo Zé Miguel Wisnik. Penso que Zé Miguel seja um dos compositores mais sensíveis da nossa música. As palavras e melodias de Wisnik me tocam como um golpe certeiro e delicado.


Me deparei com os versos a seguir:

"O céu
A cristaleira de estrelas no breu
Se equilibra"

e

"Meu Deus
Será possível quem não entendeu
O sol brilhar

Amanheceu
E assim se fez
A luz nasceu
A luz nasceu mais uma vez"

Tive a certeza de que "Libra" entraria no repertório. O meu cd é cheio de sol e lua, dia e noite, tristeza e alegria.

Gabriel Medeiros
agosto/2011


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Por que gravar um cd?


O texto abaixo compõe o encarte do cd "De noite o sol ilumina".


Por que gravar um cd?

Quando criança, assim como muitos meninos, eu tinha um enorme fascínio por super-heróis. Super-homem, Batman, X-Men, Homem-Aranha, He-Man, Thundercats, entre outros. Assistia a desenhos, filmes, lia quadrinhos e tinha vários bonequinhos, com os quais inventava longas histórias com meus amigos (isso quando não brincávamos nós mesmos de sermos os heróis). Sonhava em ser um deles.

No início da adolescência, o interesse por super-heróis foi sendo substituído aos poucos pelo interesse por música, em específico por bandas de heavy metal. Iron Maiden, Metallica, Ozzy, Angra, Savatage, Blind Guardian, entre outras. É curioso notar como alguns músicos de bandas de metal se portam no palco como super-heróis, empunhando seus instrumentos como se fossem armas. A adoração dos fãs é também similar à adoração a semi-deuses. O que está ali no palco já não é mais humano. Eu, que tinha vontade de ser um super-herói, tive vontade de ser um músico. Comprei uma guitarra, fiz algumas aulas e tentei montar uma banda. A banda não deu certo, mas o envolvimento com música já era ali algo definitivo.

Mais pro fim da adolescência, a primeira paixão platônica por uma garota me levou à poesia de Vinícius de Moraes. Por outro lado, o interesse pelo estudo de música me levou à Tom Jobim - meu professor de guitarra tinha me dado como exemplo de música com harmonias sofisticadas a música do Tom. É dificil explicar o impacto que isso teve na minha vida. Ouvia repetidas vezes Chega de saudade, Eu sei que vou te amar e Estrada branca. Descobri João Gilberto, tornei-me súdito de Tom Jobim e me transformei em um bossa-novista radical. Durante um tempo só isso me interessava. Anos depois tomei conhecimento de depoimentos de Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso e Gilberto Gil, de que como, durante um tempo, ao descobrir a bossa-nova, todos eles tornaram-se bossa-novistas radicais. É interessante notar o efeito que a bossa-nova causa a algumas pessoas e, no meu caso, independentemente da época. Comigo aconteceu cerca de 40 anos depois do "movimento" explodir.

Esse interesse exclusivo por bossa-nova durou um tempo, depois descobri Chico, o Tropicalismo, Caymmi, Milton, Francis, Edu, Dori, Djavan, Ivan, João Bosco, Joyce, Zé Miguel Wisnik, Luiz Tatit, Lenine, Moska, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhotto e tantos mais. Um mergulho nesses mares profundos da música brasileira, um mergulho num mar de tesouros que parecem não ter fim. Poxa vida, descobri super-heróis aqui no meu próprio país, que falam a minha língua, que dizem coisas que fazem parte da minha vida também, que têm o super-poder de fazer canções e que são nisso reconhecidos como alguns dos melhores do mundo. Como não querer tentar fazer parte desse universo? Como não querer tentar ser um deles?? Troquei a guitarra pelo violão, descobri que podia cantar e compor. Pronto, estava traçado o meu plano, queria ser compositor e cantor, queria ter uma obra, fazer shows e gravar cds.

Embora eu tenha muito mais prazer em cantar do que em compor (por razões que não vou entrar em detalhes aqui), eu pensava, e penso, que, para me lançar como um novo artista, eu deveria trazer comigo novas canções, de minha autoria. Acho que eu ficaria muito satisfeito em ter uma carreira de intérprete, apenas cantando canções alheias, mas não acho que meu talento em cantar seja o suficiente para justificar o interesse de um público, pelo menos não um interesse inicial. Aos poucos fui percebendo que cada canção levava um tempo para ser feita. Tento ser um compositor rigoroso, penso que já existem no mundo canções demais, muitas delas muito boas. Resumindo: levei cerca de 10 anos para conseguir compor canções suficientes em qualidade e quantidade para gravar o cd. Na verdade meu projeto inicial era que o cd tivesse mais canções minhas, mas me dei conta de que talvez essas canções nunca viriam e que já era hora de registrar esse meu trabalho. O cd acabou ficando com 07 composições minhas, uma delas em parceria (com Pablito). Recorri a amigos compositores (Wimer, Cássio, Ozias, Paulão e Dédo) para completar o repertório e regravei uma canção de Wisnik e uma de Tatit, heróis pra mim. Penso hoje que foi uma decisão acertada, gosto muito desse repertório.

Para me ajudar a produzir esse cd convidei Fábio Tagliaferri, com quem eu já tinha trabalhado meio como aluno. O que eu posso dizer sobre o Fábio? É uma pessoa dotada musicalmente. Sendo a música uma linguagem, o Fábio é uma pessoa que tem fluência nessa língua. Com certeza sua presença foi fundamental pra que o cd saísse assim tão "musical". Com o Fábio vieram Adriano, Dino e Daniel (com quem eu já tinha trabalhado também), além das participações de Rubinho e Ricardo. Acredito que não existiriam escolhas mais acertadas. Que honra pra mim poder contar com músicos tão precisos e sensíveis. Juntando os compositores e músicos que participam desse cd, é uma alegria pra mim poder ver que estou, afinal, em meio a uma super-equipe!
Para cantar "Descobrimento do Brasil" convidei a cantora Rose Santana, uma amiga querida, parceira de tantos projetos. Penso que nosso encontro tenha sido fundamental para que nossas aspirações artísticas saíssem do campo das idéias e ganhassem forma.

O cd está pronto, e agora?

Milhares de novos artistas lançam os seus cds toda semana no mundo inteiro. Tudo por conta do avanço e democratização das novas tecnologias de produção e difusão. Hoje, o destino de cada canção gravada é tornar-se um arquivo digital. Que minhas gravações sejam lançadas ao mar onde todos navegam! Que essas canções, à deriva, sejam encontradas por "errantes navegantes" que possam fazer bom uso de seu conteúdo!

Penso no meu desejo infantil de tornar-me um super-herói e chego à conclusão de que, no centro desse desejo, o que existia era a vontade de que a vida fosse mais do que ela é. Não sou mais criança, meus desejos amadureceram, mas, desde meu envolvimento com a música, a vida tornou-se mais do que era. A vida é boa.

Esse cd é dedicado a Antonio Carlos Jobim, João Gilberto, Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Gabriel Medeiros
janeiro/2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011

a ficha técnica


Adriano Busko
- bateria e percussão
Daniel Nakamura - guitarra, violão e baixo
Dino Barioni - violão 7 cordas, guitarra, bandolim e cavaquinho
Fábio Tagliaferri - viola e baixo
Ricardo Fukuda - cello
Rose Santana - voz
Rubinho Antunes - trompete e flugelhorn

produção e direção musical:
Fábio Tagliaferri e Gabriel Medeiros
arranjos de base: Fábio Tagliaferri, Gabriel Medeiros e músicos participantes
arranjo de cordas: em "Libra", "Outras Cores" e "Deuses e deusas" - Fábio Tagliaferri
gravação, mixagem e masterização: Daniel Nakamura
fotografia: Elida Biasoli
projeto gráfico: Débora Bertoncelo

domingo, 17 de julho de 2011

o repertório


01. Libra
(Zé Miguel Wisnik)
02. Sonho do som
(Gabriel Medeiros)
03. Outras cores
(Pablito Morales/Gabriel Medeiros)
04. Bêbado de samba
(Gabriel Medeiros)
05. Talvez
(Paulo Costa/Dédo Thenório)
06. Solar
(Gabriel Medeiros)
07. Perdido
(Luiz Tatit)
08. Descobrimento do Brasil
(Gabriel Medeiros)
09. O fim da canção
(Gabriel Medeiros)
10. Sortilégio
(Ozias Stafuzza)
11. Todo o teu itinerário
(Wimer Bottura Jr./Cássio Junqueira)
12. Deuses e deusas
(Gabriel Medeiros)